Nancy Pelosi anuncia que vai se aposentar do Congresso dos EUA após quase 40 anos

Nancy Pelosi, a democrata da Califórnia de 85 anos e primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, anunciou que se aposentará do Congresso ao final de seu mandato.

Pelosi liderou os democratas na Câmara por quase duas décadas, incluindo dois períodos como presidente sob quatro presidentes diferentes. Ela anunciou sua aposentadoria em um vídeo publicado nas redes sociais na manhã de quinta-feira.

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“Fizemos história. Fizemos progresso”, disse ela no vídeo. “E agora, devemos continuar fazendo isso, permanecendo participantes ativos em nossa democracia e lutando pelos ideais americanos que prezamos.”

Sua saída deixa uma vaga em um distrito fortemente democrata em São Francisco pela primeira vez em quase 40 anos. Mais amplamente, a aposentadoria de Pelosi cria uma lacuna na liderança nacional do Partido Democrata, ressaltando dúvidas sobre o futuro de um partido que tem tido dificuldades para encontrar uma mensagem vencedora na era do presidente Donald Trump.

Tática legislativa feroz e arrecadadora prolífica, ela foi fundamental para garantir conquistas políticas emblemáticas para os presidentes democratas Barack Obama e Joe Biden, mantendo unido um grupo marcado por tensões entre progressistas e centristas. Isso também a tornou um alvo principal para os republicanos, que a retratavam como vilã em anúncios para motivar seus eleitores.

Vários candidatos já haviam surgido para disputar seu assento antes do anúncio de sua saída, incluindo o senador estadual Scott Wiener e o progressista Saikat Chakrabarti.

“Nancy Pelosi é uma figura icônica, lendária e transformadora, que fez tantas coisas ao longo de tantos anos para melhorar a vida de tantas pessoas”, disse o líder da minoria, Hakeem Jeffries, a repórteres em 3 de novembro.

Entre suas maiores conquistas como líder do partido está a ajuda para aprovar a Lei de Cuidados Acessíveis (Affordable Care Act) de Obama. Ela também foi fundamental na aprovação da Lei Dodd-Frank, que impôs mais controles à Wall Street após a crise financeira de 2008, assim como no pacote de estímulo econômico para ajudar bancos e outros a se recuperarem da recessão subsequente.

Pelosi gerenciou seu grupo dividido para aprovar grande parte da agenda econômica de Biden, incluindo um projeto bipartidário de infraestrutura e a Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act), que criou novos incentivos para energia renovável e reduziu os preços de medicamentos prescritos.

Alguns de seus momentos mais memoráveis surgiram de embates com Trump. Ela supervisionou dois processos de impeachment durante o primeiro mandato dele e também ganhou destaque ao rasgar uma cópia do discurso do Estado da União do presidente enquanto estava atrás dele, em 2020.

Em uma reunião no Salão Oval em 2018, após os democratas conquistarem o controle da Câmara, ela o repreendeu para que “não caracterizasse a força que eu trago para esta reunião”. O vídeo dela saindo da Casa Branca logo depois, usando óculos escuros e um sobretudo laranja, rapidamente virou meme nas redes sociais.

Mas seu atrito com a Casa Branca não se limitou aos republicanos. Ela demonstrou um dos seus movimentos mais notáveis de poder dentro do partido ao se desentender com Biden, dizendo que ele deveria desistir da corrida presidencial de 2024. Seu desprezo ajudou a iniciar uma campanha de pressão que levou à saída dele da disputa, fazendo com que a ex-vice-presidente Kamala Harris assumisse sua vaga.

A aposentadoria de Pelosi ocorre enquanto os democratas enfrentam o futuro do partido. O prefeito eleito democrata de Nova York, Zohran Mamdani, mobilizou eleitores ao enfatizar a acessibilidade e prometer mudanças progressistas, incluindo supermercados administrados pela cidade e creches gratuitas. Outros democratas bem-sucedidos, como a governadora eleita da Virgínia, Abigail Spanberger, adotaram políticas mais pragmáticas.

A ex-presidente manteve certa distância de algumas alas progressistas emergentes do partido. Ela discordou publicamente de uma das figuras progressistas mais conhecidas dos democratas, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York.

Como uma das membros mais antigas da Câmara, Pelosi enfrentou pressão crescente de colegas para se aposentar nos últimos anos e abrir espaço para uma nova geração.

As consequências de um ambiente político cada vez mais hostil e dividido atingiram Pelosi diretamente, já que ela foi alvo frequente de ameaças. A polícia do Capitólio a retirou às pressas da Câmara antes da invasão durante a insurreição de 6 de janeiro de 2021, quando alguns manifestantes gritavam “Cadê a Nancy?” e saqueavam seu escritório.

Em 2022, um agressor armado com um martelo invadiu a casa de Pelosi em São Francisco e fraturou o crânio de seu marido, Paul Pelosi. O invasor disse que procurava Nancy Pelosi, que era seu alvo.

Semanas depois, após uma eleição em que os democratas perderam o controle da Câmara e sob pressão para permitir a ascensão de uma nova geração no partido, Pelosi anunciou que não buscaria outro mandato na liderança partidária.

A carreira política de Pelosi remonta ao passado do Partido Democrata, ligado às máquinas políticas das grandes cidades e à classe trabalhadora. Ela aprendeu política com seu pai, o ex-prefeito de Baltimore Thomas D’Alesandro Jr.

Entrou na política pelo reduto liberal de São Francisco, onde concorreu pela primeira vez aos 47 anos, após criar cinco filhos com o marido, um investidor em imóveis e capital de risco.